Depois de mais um dia de aula na grande cidade do Rio de Janeiro, pego meu primeiro ônibus para casa. Vazio, o ambiente é propício a pensamentos longos, daqueles que quanto mais a gente reflete, maior é a possibilidade de mudar alguma atitude própria. Ainda no clima da Páscoa, refletindo sobre a segunda oportunidade que tempos para enxergar e praticar o bem sem preconceitos, desço do ônibus no ponto rotineiro e espero o próximo.
Uma mulher baixa, com aparência de poucos recursos e com roupas visivelmente gastas pelo tempo e pelo uso repetido, se aproxima. Eu, como sempre fiz questão de gritar ao mundo "Chega de preconceitos!", me vi naquela situação, podendo colocar em prática o que tinha pensado na viagem de ônibus. Logo chamei a moça para perto e ofereci um abrigo embaixo do meu guarda-chuva. Conversamos um tempo enquanto o meu segundo ônibus não chegava. Típica atitude de carioca conversar com desconhecidos em lugares de espera. O ponto de ônibus parece ser a alegria dos que sofrem de solidão por aqui.
Enfim chega meu segundo ônibus e lá vou eu. Me despeço da mulher, que mesmo sem sequer saber seu nome, conheço as vidas de seus dois filhos completas. Ela, agradecida pela conversa e pela "carona" sob meu guarda-chuva me diz: "Vai, minha filha. Vai com Deus". Me supreendo com a intonação que ela impôs nessas palavras e retribuo com um sorriso dizendo: "Você também fique com Deus", logo subindo no ônibus. Feliz por ter tido a oportunidade de fazer alguma coisa, eu, na minha nada humilde insignificância, achei que tinha acabado de viver um exemplo do significado da Páscoa.
Hora de escolher meu lugar para sentar. Tinham apenas duas cadeiras vagas, uma atrás da outra, e nos lugares ocupados ao lado de cada uma, tinha um homem forte, negro, de uns 40 anos. Atrás dele, outro homem, branco, que aparentava a mesma idade e com feições mais brandas. De impulso, quase sentei ao lado do homem de trás, branco e simpático. Me senti um lixo em pensar que eu tive esse tipo de impulso e parei a tempo de sentar ao lado do outro homem, negro e com feições um pouco agressivas.
Mais uma vez pensei: "Nossa, eu posso gritar pra todo mundo 'chega de preconceitos!' com a consciência tranquila".
Quase chegando em casa me surpreendo com um rapaz, de estatura mediana, vestido de calça jeans, tênis, uma blusa branca, mochila, de pé ao meu lado. Estranhei, pois àquela altura já haviam mais cadeiras vagas nas quais poderia sentar.
Analisava o rapaz de alto a baixo, quando receei por alguma atitude ruim. O rapaz tira sua mochila, apoia no chão do ônibus e começa a mexer, pelo que parecia, sem muito sucesso, para achar algum objeto. Com os dois olhos bem abertos e alerta para qualquer movimento em falso, o vi retirar de sua mochila um caderno novo, bem cuidado, mas simples, que não parecia caro. O rapaz mesmo com o balanço do ônibus consegue apoio e destaca uma folha. Dobra e entrega o pedaço de papel a outro passageiro do ônibus dizendo: "Coloca esse papel aí na janela pra parar de pingar água em você". O passageiro agradece e segue seu conselho.
Desço no ponto próximo e sigo pra casa me perguntando se eu conseguiria passar pelo menos um dia sem julgar alguém antes que me dê motivos. Respondi comigo mesma: Quem sabem um dia? Afinal de contas, não é só na época da Páscoa que temos a oportunidade de consetar os erros e de poder acertar, e sim, todos os dias. Vou tentar!
gostei :)
ResponderExcluirAi, que lindo, Nathália...
ResponderExcluirSuper sensível.
Não, nós sempre julgamos. Diariamente, o tempo todo. Mas, como vc, vou tentar reservar um novo olhar! ;)
Que bom, Sá!!! É esse o objetivo! ;)
ResponderExcluirEntão, vc tá concretizando-o
ResponderExcluir=)
xD
ResponderExcluirVocê é uma pessoa linda! De muita luz, uma ferramenta preciosa para Deus.
ResponderExcluirNunca deixe de ouvir seu coração, ele é mais puro que a razão.
Abraço e fique com Deus.
Não sei se mereço o elogio, mas muito obrigada!!
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